05/06/2009

nota 3 - sobre uma diferença entre Zizek, de um lado, e Antonio Negri e Michael Hardt de outro.

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zizek diz na entrevista do roda viva que apesar de não concordar com michael hardt e antonio negri em muitas coisas ele reconhece a importância da discussão trazida pelos autores no seu livro império: a recolocação da economia no centro dos debates atuais sobre globalização e problemas mundiais.

Depois que vi a entrevista fiquei intrigado e fui procurar atentamente nos livros que tenho, do zizek e do negri e hardt, algo que me esclarecesse sobre a questão dessas diferenças entre eles. eis que depois de folhear novamente os seguintes livros,

de zizek:

Bem vindo ao deserto do real
A visão em paralaxe
Arriscar o impossível - entrevistas com zizek

de antonio negri e michael hardt:

Império
Multidão

descobri o porque dessa diferença.

a principal questão é a seguinte:

negri e hardt acreditam na democracia e zizek não acredita na democracia. isso parece pouco mas cria um abismo enorme entre as perspectivas teóricas de zizek de um lado e negri e hardt no outro...

por exemplo, na introdução de Multidão, hardt e negri falam o seguinte:
"a possibilidade da democracia em escala global apresenta-se hoje pela primeira vez. Este livro é sobre esta possibilidade, sobre aquilo que chamamos de projeto da multidão. o projeto da multidão não só expressa o projeto de um mundo de igualdade e liberdade, não apenas exige uma sociedade global que seja aberta e inclusiva, como proporciona os meios para alcancá-la."

e zizek no "a visão em paralaxe" diz o seguinte:

"Hoje quando todo mundo é “anticapitalista”, até os filmes conspiratórios “crítico-sociais” de Hollywood (de Inimigo de estado até O informante), em que o inimigo são as grandes empresas em sua busca impiedosa por lucros, o significante “anticapitalismo” perdeu o ferrão subversivo. O que deveríamos problematizar é o oposto por si só evidente desse “anticapitalismo”: a confiança na substância democrática dos honestos norte-americanos para extinguir a conspiração. Esse é o núcleo duro do universo capitalista global, seu verdadeiro Significante-Mestre: a democracia. E as declarações mais recentes de Michael Hardt e Antonio Negri não são uma uma espécie de confirmação inesperada das idéias de Badiou? Seguindo uma necessidade paradoxal, seu próprio (concentrar-se no) anticapitalismo levou-os a admitir a força revolucionária do capitalismo, de modo que, como eles mesmos explicam, não é preciso combater o capitalismo, por que ele já está gerando em si potenciais comunistas – o “tornar-se comunista do capitalismo”, para empregar termos deleuzianos"*...



* ver Michael Hardt e Antonio Negri, Multidão: guerra e democracia na era do império, Rio de janeiro, Record, 2005. Portanto, a rede mundial de computadores do ciberespaço será inerentemente “comunista”, a materialização do intelecto social(izado), a incorporação direta da mente coletiva? Seria possível explicar, no sentido marxista padrão, que a www já é comunista “em si” (assim como, para Marx, a grande indústria fabril já era coletivizada em si, ao contrário da propriedade individual dos meios de produção), de modo que só é necessário passar do Em-si para o Para-si?
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citações retiradas de:

HARDT, michael e NEGRI, antonio. Multidão: guerra e democracia na era do império. São Paulo: Record, 2005. (pag. 9)

ZIZEK, Slavoj. A visão em paralaxe. São Paulo: Boitempo, 2008. (pág. 420-421)
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roquinho
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