notas esparsas - som do roque

22/05/2015

Jessé Souza





Jessé Souza é um sociólogo brasileiro. 

25/06/2009

nota 6 - qual civilização queremos

.
especialista americano diz no globo "maus professores devem ser demitidos".

eu digo: pra isso temos que nos perguntar "o que é um mau professor?"
eu digo: pra definir como seria este tal "mau professor", teríamos que saber qual é a boa função de um professor na atualidade.
eu digo: para saber qual a função de um professor na atualidade, teríamos que saber para quê (ou a quê) serve a educação hoje em dia.
eu digo: pra saber quais os caminhos a seguir dentro da educação teríamos que discutir quais os caminhos a civilização quer seguir.
eu digo: para isso, teríamos que discutir seriamente "civilização". 


eu digo: para discutir seriamente civilização teríamos que parar um pouco. quem pode e quem quer?

09/06/2009

nota 5 - desaceleração

.
o conferencista diz: ''a resposta para nossos problemas é a desaceleração''.

infelizmente nem ele mesmo acredita que isso vá acontecer.
sendo assim, seguindo a lógica implícita, esperemos o pior...
.

nota 4 - sobre barulho nas grandes cidades.

.
aqui em salvador (não tenho conhecimento deste problema em outras cidades) já há alguns anos vem se popularizando uma prática que me deixa fora de mim: pessoas instalam equipamentos de som super potentes nos seus carros e os ligam em locais públicos.
o que quero lembrar aqui é que como o som se espalha no ambiente fazendo com que todos ouçam-no (quem quer e quem não quer ouvir tem que ouvir, é obrigado a ouvir) isto se torna um problema de todos, afeta a todos, é um problema público e não privado. Por exemplo: um determinado condomínio de prédios onde nos fins de semana algumas pessoas ligam o som potente do seu carro afetando a vida de todos. digamos que existam pessoas que não queiram ouvir som, como idosos, doentes, pessoas que queiram ler, estudar, escutar outro tipo de som dentro de casa, ou assistir a um vídeo, ou simplesmente descansar ou dormir. o que fazer?
como fazer o silêncio (também) existir dentro de uma sociedade totalmente esquizofrênica e voltada para a banalização dessa esfera monstruosa do barulho úbiquo advindo de nossa enorme maquinosfera?
mais um caso seríssimo de saúde pública. o barulho nos adoece. Estamos todos doentes. Já não sabemos ouvir.
.

05/06/2009

nota 3 - sobre uma diferença entre Zizek, de um lado, e Antonio Negri e Michael Hardt de outro.

.

zizek diz na entrevista do roda viva que apesar de não concordar com michael hardt e antonio negri em muitas coisas ele reconhece a importância da discussão trazida pelos autores no seu livro império: a recolocação da economia no centro dos debates atuais sobre globalização e problemas mundiais.

Depois que vi a entrevista fiquei intrigado e fui procurar atentamente nos livros que tenho, do zizek e do negri e hardt, algo que me esclarecesse sobre a questão dessas diferenças entre eles. eis que depois de folhear novamente os seguintes livros,

de zizek:

Bem vindo ao deserto do real
A visão em paralaxe
Arriscar o impossível - entrevistas com zizek

de antonio negri e michael hardt:

Império
Multidão

descobri o porque dessa diferença.

a principal questão é a seguinte:

negri e hardt acreditam na democracia e zizek não acredita na democracia. isso parece pouco mas cria um abismo enorme entre as perspectivas teóricas de zizek de um lado e negri e hardt no outro...

por exemplo, na introdução de Multidão, hardt e negri falam o seguinte:
"a possibilidade da democracia em escala global apresenta-se hoje pela primeira vez. Este livro é sobre esta possibilidade, sobre aquilo que chamamos de projeto da multidão. o projeto da multidão não só expressa o projeto de um mundo de igualdade e liberdade, não apenas exige uma sociedade global que seja aberta e inclusiva, como proporciona os meios para alcancá-la."

e zizek no "a visão em paralaxe" diz o seguinte:

"Hoje quando todo mundo é “anticapitalista”, até os filmes conspiratórios “crítico-sociais” de Hollywood (de Inimigo de estado até O informante), em que o inimigo são as grandes empresas em sua busca impiedosa por lucros, o significante “anticapitalismo” perdeu o ferrão subversivo. O que deveríamos problematizar é o oposto por si só evidente desse “anticapitalismo”: a confiança na substância democrática dos honestos norte-americanos para extinguir a conspiração. Esse é o núcleo duro do universo capitalista global, seu verdadeiro Significante-Mestre: a democracia. E as declarações mais recentes de Michael Hardt e Antonio Negri não são uma uma espécie de confirmação inesperada das idéias de Badiou? Seguindo uma necessidade paradoxal, seu próprio (concentrar-se no) anticapitalismo levou-os a admitir a força revolucionária do capitalismo, de modo que, como eles mesmos explicam, não é preciso combater o capitalismo, por que ele já está gerando em si potenciais comunistas – o “tornar-se comunista do capitalismo”, para empregar termos deleuzianos"*...



* ver Michael Hardt e Antonio Negri, Multidão: guerra e democracia na era do império, Rio de janeiro, Record, 2005. Portanto, a rede mundial de computadores do ciberespaço será inerentemente “comunista”, a materialização do intelecto social(izado), a incorporação direta da mente coletiva? Seria possível explicar, no sentido marxista padrão, que a www já é comunista “em si” (assim como, para Marx, a grande indústria fabril já era coletivizada em si, ao contrário da propriedade individual dos meios de produção), de modo que só é necessário passar do Em-si para o Para-si?
.


citações retiradas de:

HARDT, michael e NEGRI, antonio. Multidão: guerra e democracia na era do império. São Paulo: Record, 2005. (pag. 9)

ZIZEK, Slavoj. A visão em paralaxe. São Paulo: Boitempo, 2008. (pág. 420-421)
.
.
roquinho
.

nota 2 - sobre a incompatibilidade do exercício do poder e da atividade intelectual.

.

entrevista com a filósofa marilena chauí, no roda viva.

pergunta:

São compatíveis a atividade intelectual e o intelectual no poder? O poder e a atividade intelectual são compatíveis?

resposta:

"não são compatíveis porque o poder exige de você a velocidade da ação e da ação eficaz e a impossibilidade da reflexão. enquanto a vida intelectual, primeiro ela não quer poder nenhum e ela é, ela tem uma lógica e um tempo próprios que não são de maneira alguma incompatíveis com a ação política, com a vida política. Mas ela é incompatível com o exercício do poder pela lógica e velocidade da ação que é requerida a cada instante sob a forma de táticas para cumprir uma estratégia".

.



.

roquinho

.

nota 1 - sobre sociedade de controle

.

estava lendo um e-mail (no gmail - o e-mail do google), enviado por uma amiga, que tratava de uma questão relacionada ao tipo de trabalho dito autonômo. a situação era a de um funcionário que mesmo trabalhando como autônomo para uma mega empresa teria que "bater ponto" todos os dias - isso é o controle racional da chamada sociedade disciplinar.
logo após fechar este e-mail específico, vejo um anúncio publicitário na borda da página "caixa de entrada" do gmail. o anúncio era de uma empresa de "Relógios de Ponto e Catracas". Isso sim, é a (sutil) chamada "sociedade de controle".
e é só o começo do que a "era google" pode vir a fazer... rastreamento total dos seus atos na rede e utilização comercial destas informações - seus passos, suas pesquisas, seus interesses...

.

roquinho

.